sexta-feira, 13 de maio de 2011

Crônica: "As lutas de classes retornam pelos banheiros"

por Lincoln Secco*

Podemos agora reler cuidadosamente O 18 Brumário de Luiz Bonaparte que a editora Boitempo acaba de lançar em nova tradução. Mas não podemos deixar de dizer que, apesar de sua genialidade, Karl Marx não imaginou até onde chegariam as lutas de classes em França ou fora dela.

Bem, elas simplesmente chegam aonde é necessário.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Aliança Estudantes-Trabalhadores nos EUA

Notícia traduzida por Caio "Atleta"

Esta primavera, enquanto ataques de alto calibre no setor público revigoram o movimento do trabalho* à nível nacional, estudantes, em conjunto com os sindicatos de trabalhadores, estão na linha de frente, começando com a incrível ocupação do prédio da Assembléia Legislativa de Wisconsin. No dia 4 de abril, milhares de estudantes se juntaram em apoio aos direitos do trabalhadores, como parte de um dia nacional de mobilização, e no dia seguinte, nós ajudamos a sediar uma aula dentro da ocupação sobre a ganância corporativa com Cornel West e Frances Fox Piven. Agora, ativistas da USAS**, dentro de suas próprias universidades, levaram a luta além, correndo o risco de prisão para se levantar à favor dos trabalhadores. Apenas nos últimos seis dias letivos, estudantes executaram cinco ocupações nas salas dos presidentes das universidades para demandar que os administradores com salários de seis dígitos finalmente ouçam às vozes dos estudantes e trabalhadores.

domingo, 8 de maio de 2011

Crônica: "Cabeças erguidas"

Por Júlia B., estudante de História da USP
“Se os alunos levantassem a cabeça de suas bandejas, veriam onde estão os negros, onde estão as mulheres negras na Universidade – servindo”. Foi assim que Pablito, diretor do Sintusp, funcionário da USP e militante da LER-QI resumiu, em uma frase, a realidade da Universidade brasileira, não só da Universidade de São Paulo.

1º de Maio: Bloco Somos Tod@s José Ferreira da Silva



1º de maio de 2011, Praça da Sé, São Paulo. Data e local de um acontecimento que entrou pra história. Não por causa das já costumeiras ''festas do trabalhador'' que ocorrem nessa data, grandes comemorações alienadas da degradante situação atual da classe trabalhadora e dos constantes ataques dos quais ela é alvo, mas sim por causa de um pequeno bloco que se destacou dessa apatia geral. O nome era Bloco Somos Tod@s José Ferreira da Silva, em homenagem ao trabalhador terceirizado morto na Faculdade de Medicina da USP após uma queda de 11 metros por não ter as condições de segurança necessárias para limpar os vidros do prédio. Em sua composição, os trabalhadores e trabalhadoras terceirizados protagonistas da recente mobilização na USP, junto aos estudantes, intelectuais e organizações políticas que os apoiaram, totalizando mais de 300 pessoas. O bloco se concentrou na Praça da Sé, se manteve coeso mesmo depois da truculência da PM em reprimir as manifestações, e, depois de ter o direito a fala no palco negado pelas organizações políticas que organizaram o ato antigovernista, saiu em passeata pelas ruas do centro, até terminar no Largo São Francisco, onde foram feitas falas que deixaram claros a necessidade de se unir para responder aos ataques que são impostos ao conjunto dos trabalhadores, e a vontade das pessoas ali presentes de fazer o possível para que isso aconteça. Que atos como esse no 1º de maio não sejam mais a exceção, mas a regra nos próximos anos!

Crônica: "Insurreição das vassouras"

Por André Bof, estudante de Ciências Sociais da USP

“A luta é dura, companheiro”. É com esta constatação que uma trabalhadora anuncia ao estudante mais um dia no piquete das trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da Empresa União, bloqueando mais uma vez a entrada da surda e muda- porém, implacável- Reitoria.

Nota da Assembléia de Terceirizados e Terceirizadas da USP contra as demissões em Jirau


São Paulo, 20 de abril de 2011

Nós, trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da empresa UNIÃO, contratada pela Universidade de São Paulo, em greve há 13 dias na luta pelo pagamento de nossos salários, que recém conquistamos, mas também pela nossa efetivação ao quadro de funcionários da USP, viemos declarar nosso repúdio à ameaça de 6 mil demissões nas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em Jirau, Rondônia. No Brasil inteiro, os trabalhadores de construção civil estão denunciando o regime de semi-escravidão à que estão submetidos, e aqui na USP, ao lado dos estudantes, nós estamos lutando para que a universidade não seja mantida pelo trabalho semi-escravo. Por isso, consideramos que em Jirau, Suape, Santo Antônio, Pecem, e também na USP fazemos parte de uma mesma luta, porque somos uma só classe. Basta de precarização do trabalho e condições semi-escravas. Nenhuma demissão em Jirau!

Assembléia de Trabalhadoras e Trabalhadores Terceirizados da UNIÃO (USP)

Carta aberta aos “terceirizados” da USP e aos juristas brasileiros


Jorge Luiz Souto Maior
A sociedade brasileira está tendo a oportunidade de ver o que representa o processo de terceirização, sobretudo no setor público, a partir da realidade vivenciada – mais uma vez, infelizmente, na Universidade de São Paulo. Esta é uma situação muito triste, mas, ao mesmo tempo, grandiosa, ao menos por quatro aspectos: primeiro, porque os trabalhadores tercerizados estão tendo visibilidade (logo eles que estão por aí nos ambientes de trabalho como seres invisíveis); segundo, porque eles próprios estão se reconhecendo como cidadãos e estão demonstrando possuir, ainda, capacidade de indignação frente à injustiça; terceiro, porque os demais trabalhadores e cidadãos estão tendo a chance de exercitar um sentimento essencial da condição humana, a solidariedade; e, quarto, porque aos profissionais do direito está sendo conferido o momento para questionar os aspectos jurídicos que conduziram à presente situação.
O fato é que a terceirização é, antes de tudo, um fenômeno criado pelo direito, tendo, portanto, o direito toda a responsabilidade quanto às injustiças que tal fenômeno produz.

Manifesto contra a terceirização e pela efetivação dos terceirizados



Diante do atraso no pagamento de salários e dos direitos trabalhistas dos empregados da “Empresa Limpadora União”, que foi contratada pela Universidade de São Paulo para a realização de serviços de limpeza, e tendo à vista o estágio avançado do processo de terceirização na Universidade, os abaixo-assinados firmam as seguintes reivindicações:

Lançamento do livro "A Precarização Tem Rosto de Mulher"


"Com este livro, buscamos reconstruir a história de uma pequena, mas exemplar, luta operária contra as péssimas condições de trabalho na Universidade de São Paulo*. Foi uma luta de trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da limpeza. Para contar esta história, à luz do processo internacional e nacional de ataque aos direitos da classe trabalhadora e de precarização e terceirização do trabalho, buscamos recontar o processo a partir de entrevistas com Silvana, principal trabalhadora que esteve na linha de frente desta luta, e também com dirigentes sindicais, trabalhadores efetivos da USP, estudantes e militantes trotskistas que atuaram conjuntamente e de distintas maneiras para transformar esta pequena luta numa verdadeira batalha de classe."
* Greve de 2005 dos trabalhadores e trabalhadoras terceirizados da empresa Dima, que paralizaram suas atividades diante dos atrasos de pagamentos e da ausência dos direitos básicos de qualquer trabalhador.

Vídeo: Uma conquista na luta estratégica pela efetivação




Depois de semanas de mobilização, a reitoria retrocedeu no seu posicionamento inicial, no qual se isentava de qualquer responsabilidade sobre o atraso dos pagamentos do salário (ignorando que era dela a opção política de pela terceirização dos postos de trabalho, além de ter optado pela contratação de uma empresa com um vasto histórico de processos trabalhistas, como é o caso da União), e pagou os salários atrasados com dinheiro do próprio caixa. Esse fato representa uma vitória na luta pela efetivação de todos os trabalhadores e trabalhadoras terceirizados sem concurso público, pois demonstrou que através da mobilização é possível suplantar as dificuldades impostas pelos patrões e o legalismo que joga a favor deles.

Vídeo: Greve dos terceirizados da União na USP

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Manifesto do Blog

Há quase um mês as trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da USP (contratados pela Empresa Limpadora UNIÃO) entraram em greve para exigir o pagamento de seus salários atrasados. Graças a sua mobilização, conquistaram os pagamentos, mas sua luta avançou demonstrando que isso não bastava, que era preciso seguir lutando para ir além de apenas receber o que era seu direito, a princípio. Iniciou-se uma luta contra a própria terceirização.

Essas trabalhadoras e trabalhadores começaram a lutar quando não tinham mais nada a perder: com o fim do contrato da UNIÃO com a USP, todos iam ser demitidos, e a empresa se preparava para sumir sem pagar os salários. Ano após ano, essa situação se repete, mostrando que não importa qual a empresa – União, Personal, Dima, Higilimp, ou qualquer outra – todas fazem parte de uma mesma classe, que usa a terceirização para aumentar seu lucro (superexplorando, punindo faltas por doença, cortando vale-transporte e cesta básica, obrigando a comer em banheiros, a trabalhar sem equipamento de segurança - tudo por cerca de um salário mínimo). É a mesma terceirização que tirou a vida de centenas como José Ferreira, trabalhador morto neste ano limpando janelas, de cadeirinha, na Faculdade de Medicina, sem ter tido nenhum treinamento de segurança. A família dele não teve sequer direito a uma investigação apropriada sobre as causas de sua morte.

Não é só na USP: em todo o mundo a terceirização aumenta a cada década, reduzindo salários e retirando direitos que haviam sido conquistados através de lutas históricas, em um movimento que divide a classe trabalhadora dia-a-dia, impedindo sua organização. Os trabalhadores da construção civil, em Jirau e outras grandes obras governistas, se levantaram em grandes greves que transformaram o trabalho precário em uma crise nacional, mostrando que o “Brasil do futuro” dos governos Lula e Dilma só cresce apoiado na superexploração e na miséria que ela traz. Também na USP, as trabalhadoras da União criaram uma situação nova, ganhando o apoio de centenas: juristas e intelectuais, estudantes e Sintusp; se revelando da invisibilidade e evidenciando que a “USP de excelência” do reitor Rodas e do Conselho Universitário - ambos ligados aos grandes empresários e a essas terceirizadoras - é sustentada por trabalho semiescravo.

“- Não sou mais!”, foi como uma terceirizada da UNIÃO respondeu à sua colega, que a cumprimentou, brincando: “Bom dia, escrava!”. Talvez a maior conquista dessa luta sejam as lições aprendidas: a de que é preciso lutar para combater a exploração que os patrões querem impor para garantir seus altos lucros, bem como a de que não é preciso esperar até não ter nada a perder, pois lutando, se ganha. E agora essa luta continua mais forte, com a aliança criada entre os trabalhadores e os estudantes que cumpriram um papel muito importante para que os trabalhadores conquistassem seus salários e direitos diretamente da Reitoria, que dizia não ter nada com isso!

Os trabalhadores terceirizados já mostraram, trabalhando, que podem exercer suas funções. Por que recebem somente um terço do salário médio de um funcionário efetivo da USP, que exerce a mesma função e já tem seu salário corroído?! Não podemos voltar a conviver normalmente com a escravidão. Por isso, foi criado o Comitê de Luta Contra a Terceirização, para seguir lutando pela EFETIVAÇÃO DE TODAS E TODOS OS TRABALHADORES TERCEIRIZADOS, SEM CONCURSO PÚBLICO! IGUAL TRABALHO, IGUAL SALÁRIO!

Assim, diante da perspectiva de uma luta efetiva contra a terceirização, nasce esse blog como um veículo de informação, ajudando a divulgar as experiências de luta, a aprofundar as reflexões sobre o tema e a dar um norte para as ações que visem, no limite, a erradicação desse regime de trabalho desumano escondido sob o véu da terceirização. Não podemos aceitar essa exploração regulamentada e naturalizada, colocada por poucos, às custas do sofrimento de muitos, como “necessária para que o país siga rumo ao progresso”. Que progresso é esse, que humilha, divide, escraviza e mata? Pois então que esse progresso seja desmascarado e colocado abaixo. Que esse blog contribua para que a luta dos trabalhadores e das trabalhadoras terceirizadas da USP se ligue com os milhares de casos de exploração que acontecem por esse país a fora, para que todos, juntos, façam o lixo da nossa sociedade vir à tona e mostrem a força concreta do grito que era entoado por aqueles e aquelas trabalhadoras no 1º de maio de 2011: “Uma só classe, uma só luta!”.