sexta-feira, 6 de maio de 2011

Manifesto do Blog

Há quase um mês as trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da USP (contratados pela Empresa Limpadora UNIÃO) entraram em greve para exigir o pagamento de seus salários atrasados. Graças a sua mobilização, conquistaram os pagamentos, mas sua luta avançou demonstrando que isso não bastava, que era preciso seguir lutando para ir além de apenas receber o que era seu direito, a princípio. Iniciou-se uma luta contra a própria terceirização.

Essas trabalhadoras e trabalhadores começaram a lutar quando não tinham mais nada a perder: com o fim do contrato da UNIÃO com a USP, todos iam ser demitidos, e a empresa se preparava para sumir sem pagar os salários. Ano após ano, essa situação se repete, mostrando que não importa qual a empresa – União, Personal, Dima, Higilimp, ou qualquer outra – todas fazem parte de uma mesma classe, que usa a terceirização para aumentar seu lucro (superexplorando, punindo faltas por doença, cortando vale-transporte e cesta básica, obrigando a comer em banheiros, a trabalhar sem equipamento de segurança - tudo por cerca de um salário mínimo). É a mesma terceirização que tirou a vida de centenas como José Ferreira, trabalhador morto neste ano limpando janelas, de cadeirinha, na Faculdade de Medicina, sem ter tido nenhum treinamento de segurança. A família dele não teve sequer direito a uma investigação apropriada sobre as causas de sua morte.

Não é só na USP: em todo o mundo a terceirização aumenta a cada década, reduzindo salários e retirando direitos que haviam sido conquistados através de lutas históricas, em um movimento que divide a classe trabalhadora dia-a-dia, impedindo sua organização. Os trabalhadores da construção civil, em Jirau e outras grandes obras governistas, se levantaram em grandes greves que transformaram o trabalho precário em uma crise nacional, mostrando que o “Brasil do futuro” dos governos Lula e Dilma só cresce apoiado na superexploração e na miséria que ela traz. Também na USP, as trabalhadoras da União criaram uma situação nova, ganhando o apoio de centenas: juristas e intelectuais, estudantes e Sintusp; se revelando da invisibilidade e evidenciando que a “USP de excelência” do reitor Rodas e do Conselho Universitário - ambos ligados aos grandes empresários e a essas terceirizadoras - é sustentada por trabalho semiescravo.

“- Não sou mais!”, foi como uma terceirizada da UNIÃO respondeu à sua colega, que a cumprimentou, brincando: “Bom dia, escrava!”. Talvez a maior conquista dessa luta sejam as lições aprendidas: a de que é preciso lutar para combater a exploração que os patrões querem impor para garantir seus altos lucros, bem como a de que não é preciso esperar até não ter nada a perder, pois lutando, se ganha. E agora essa luta continua mais forte, com a aliança criada entre os trabalhadores e os estudantes que cumpriram um papel muito importante para que os trabalhadores conquistassem seus salários e direitos diretamente da Reitoria, que dizia não ter nada com isso!

Os trabalhadores terceirizados já mostraram, trabalhando, que podem exercer suas funções. Por que recebem somente um terço do salário médio de um funcionário efetivo da USP, que exerce a mesma função e já tem seu salário corroído?! Não podemos voltar a conviver normalmente com a escravidão. Por isso, foi criado o Comitê de Luta Contra a Terceirização, para seguir lutando pela EFETIVAÇÃO DE TODAS E TODOS OS TRABALHADORES TERCEIRIZADOS, SEM CONCURSO PÚBLICO! IGUAL TRABALHO, IGUAL SALÁRIO!

Assim, diante da perspectiva de uma luta efetiva contra a terceirização, nasce esse blog como um veículo de informação, ajudando a divulgar as experiências de luta, a aprofundar as reflexões sobre o tema e a dar um norte para as ações que visem, no limite, a erradicação desse regime de trabalho desumano escondido sob o véu da terceirização. Não podemos aceitar essa exploração regulamentada e naturalizada, colocada por poucos, às custas do sofrimento de muitos, como “necessária para que o país siga rumo ao progresso”. Que progresso é esse, que humilha, divide, escraviza e mata? Pois então que esse progresso seja desmascarado e colocado abaixo. Que esse blog contribua para que a luta dos trabalhadores e das trabalhadoras terceirizadas da USP se ligue com os milhares de casos de exploração que acontecem por esse país a fora, para que todos, juntos, façam o lixo da nossa sociedade vir à tona e mostrem a força concreta do grito que era entoado por aqueles e aquelas trabalhadoras no 1º de maio de 2011: “Uma só classe, uma só luta!”.  

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